Wednesday, March 08, 2017

MANSIDÃO

Até mesmo quando faço um poema- 

Em meio ao carnaval que me espera-
Me fantasio de formidável fera
E espero que minhas garras temas,

No entanto do teu corpo é meu temor
Ao vê-lo suado voluptuoso na dança
E ao pensar que, na cama, tuas tranças
Hão de se molhar na febre do amor.

Olhos fechados, já o vejo doce, inteiro
Na mansidão de um mar tão perigoso
Naufragarei tão forte, tão fogoso
Sexo afoito por pernas, pelos, cheiros.

Sonho já com ardentes beijos úmidos
Com as mãos perdidas nos achados seios
na procura de um prazer na qual os meios
Fará dos vencedores, os vencidos

E se o pecado for azul ou cor de rosa,
A luz do desejo, a energia da ação
Hão de fazer da carne a tentação,
refúgio certo do prazer que se goza

Podes fingir que não és tão manhosa
Sabendo que só procuro os braços teus
para ter o prazer supremo que um deus
No cálice de um mortal em gotas dosa

E bebo do teu momento o auge
Como a bebida mais doce e preciosa
Sorvendo com a língua o doce leite.
Rei, dentro de mim, puro deleite.


(De Jardim Dizpersivo, Editora Per Se, 2013). 
Ilustração: Degustando a Vida. 

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