Monday, April 18, 2016

Uma poesia de Horacio Castillo



Dice Eurídice

Horacio Castillo

La ansiedad me dominó, y luego la inquietud, cuando supe que venías:
horror de que me vieras así, con este tocado de sombra,
el pelo sin brillo -el pelo, que el sol no se cansaba de dorar.
Terror también de que no fueras el mismo -el que permanecía en mi memoria-
y al mismo tiempo curiosidad por ver de nuevo un ser vivo.
Hace tanto que nadie venía por aquí,
tanto que nadie se llevaba un alma o un perro,
que cuando oí tus pasos y tu voz llamándome,
cuando por fin te estreché, más que a ti estaba abrazando a la vida.
Después tu calor me condensó, me secó como una vasija,
y caminé por el sombrío corredor
otra vez con aquella máquina atronadora dentro del pecho
y un carbón encendido en medio de las piernas.
Caminé de tu brazo, imaginando ya la luz,
los árboles junto a los cuales caminábamos,
aquella habitación llena de espejos
donde flotábamos como dos ahogados.
Hasta que de pronto tu paso se hizo nervioso,
tu pensamiento se espantó como un caballo,
y vi que tratabas de desprenderte de mí,
de librarte de la trampa de la materia mortal.
"No te vayas -supliqué- no me dejes aquí,
déjame ver de nuevo las nubes y el sol,
suéltame por el mundo como una potranca tracia."
Pero tú ya corrías hacia la salida,
y durante siete días y siete noches oí cómo llorabas,
cómo cantabas en la ribera del río infernal
nuestra vieja canción: "Lo lejano, sólo lo más lejano perdura."


DISSE EURIDÍCE

A ansiedade me dominou e logo, a inquietude quando soube que vinhas:
horror que me visse assim, com este jeito de sombra,
o cabelo sem brilho, a pele, que o sol nunca se cansava de dourar.
Terror também que não fosses o mesmo-o que permanecia em minha memória
e, ao mesmo tempo, curioso por ver de novo um ser vivo.
Há muito tempo ninguém vinha por aqui,
Ninguém, nenhuma alma ou um cão,
Tanto que quando ouvi os teus passos e a tua voz me chamando,
Quando, por fim, te estreitei, mais do que a ti estava abraçando a vida.
Depois o teu calor me condensou, me secou como um vaso,
e caminhei pelo corredor escuro
outra vez com aquela máquina estrondosa dentro do peito
e um carvão incendiado no meio das pernas.
Caminhei em teus braços, já imaginando a luz,
as árvores junto das quais caminhávamos,
naquela casa cheia de espelhos
onde flutuamos como dois afogados.
Até que de repente teu passo se fez nervoso,
teu pensamento se espantou como um cavalo,
e vi que tratavas de se desprender de mim,
para se livrar da armadilha mortal da matéria.
"Não te vás”-supliquei-não me deixes aqui,
deixe-me ver de novo as nuvens e o sol,
solta-me pelo mundo como uma potranca trácia. "
Porém, tu já corrias em direção à saída,
e, por sete dias e sete noites, ouvi como choravas,
como cantavas nas margens do rio infernal
nossa velha canção: "O distante, só mais distante perdura."

Ilustração: www.mensagenscomamor.com

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