Friday, February 19, 2016

Poema da crônica dor de cada dia

Estou, lenta e seguramente, aprendendo a lidar com a dor.
A dor, agora, já não é mais aquela coisa estranha.
Na verdade, a dor, quando é imensa, se entranha
E, mesmo tirando pedaços, fica dentro de nós,
A passear, se remexer, à vontade e atroz 
Como se tivesse direito a um corpo que não é o seu...
De tal forma que, se desaparece sem motivo,
Nos induz a ser muito mais perceptivo 
Com a sensação de que alguma coisa se perdeu.
A dor se comporta como a proprietária dos sentidos
Ainda quando os esmaga, rompe, torce, rasga
Indiferente a como ficamos nos engasga,
nos fragiliza, nos amedronta ao variar 
E nos faz chorar pensando que vamos acabar.
A dor de tão insensível e cruel tem variações
Que nos alegram como se fosse um sinal
De que, afinal, estamos vivos, que temos emoções.  
A dor, no momento, é minha grande companheira
E se comporta como se fosse minha amiga a vida inteira
Com uma familiaridade que, às vezes, me assusta
E a minha grande aposta é de que, também, de mim gosta
Bem, e se não for, para suportá-la, acreditar o que me custa
Se, quando penso que já foi, eí-la de volta? 

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