Sunday, November 09, 2014



ÚLTIMO AMANECER

González Moreno

"Her bare
feet seem to be saying:
We have come so far, it is over.
Each dead child coiled, a white serpent,
One at each little
Pitcher of milk, now empty."
                                    Sylvia Plath

No abras aún la espita.
Espera a que amanezca. Que la luz
pueda tocar tu cuerpo cuando llegue.
No selles todavía
la puerta. Si es preciso
nos ahorcaremos con la misma soga,
seremos blanco de una misma bala
o, si tú lo prefieres,
nos beberemos, sorbo a sorbo, el aire.
Pero aguarda. Muy pronto
la claridad comenzará a adueñarse
de la casa. Procura
dejar el desayuno preparado a los niños
para que ahí, muy cerca,
no se note que faltas.
Vierte en las tazas tu dolor de madre
con el gesto piadoso de quien se dispone
a regar ese árbol donde su propia carne
ha de seguir creciendo.
Espera a que la luz entre despacio
en tus ojos. Después
yo besaré tu carne envenenada,
me beberé, mezclada con vino, tu saliva.
No entregues a la noche
tu cuerpo. Espera: con la claridad
esas tazas de leche
tendrán sabor a savia. Y si es preciso
yo llevaré después tu sombra de la mano
al otro lado de la casa,
a ese otro lado donde, ya sin ti,
mañana -si amanece-
las ramas de tu miedo y de tu savia
continuarán creciendo...

Último amanhecer

“Seus pés
nus parecem estar dizendo:
Nós chegamos tão longe, tão longe.
Cada criança morta enrolada, como uma serpente branca,
De cada uma, um pouco
Jarro de leite, agora vazio. "
                                 Silvia Plath

Não abras ainda a torneira.
Espera até que amanheça. Que a Luz
Possa tocar teu corpo quando chegar.
Não seles, todavia,
a porta. Se for preciso
nós enforcaremos com a mesma corda
seremos alvo de uma mesma bala
ou, se tu preferes,
beberemos, gole por gole, o ar.
Porém, aguarda. Muito em breve
a claridade começará a assumir
a casa. Procura
deixar o café da manhã preparado para as crianças
para que aí, muito perto,
não se note que faltas.
Verte nos copos a tua dor de mãe
com o gesto piedoso de quem está disposto
a regar a árvore onde sua própria carne
há de seguir crescendo.
Espera até que a luz lentamente
Entre nos teus olhos. Mais tarde
Eu beijarei tua carne envenenada,
me beberei, misturado com vinho, à tua saliva.
Não entregues à noite
teu corpo. Espera: com a claridade
Estes copos de leite
terão sabor de seiva. E, se for preciso
eu levarei depois tua sombra pela mão
ao outro lado da casa,
a este outro lado, onde, já sem ti,
a manhã amanhece-
os ramos de teu medo e de tua seiva
continuarão crescendo ...


Ilustração: fractaisdecalu.blogspot.com
Fonte: Extraído do Blog de José Luis Garcia Herrera

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