Sunday, August 24, 2014

Obsolescência



Organizei o amor
Em cada beijo
Carinho, gesto.
Fui sistemático, rigoroso, até indigesto,
Mas, eficazmente o fiz sistêmico.
Pois, nele tudo acontecia
             rigidamente matemático.
Fosse na luz, na cor, no formato
             havia regularidade em cada ato
E o amor tornou-se assim
             rentável empresa
Onde a vida se sentia presa
             para se libertar em ais convulsos
Sempre com a mecanicidade da monotonia
Até que este produto de consumo
Tornou-se algo antiquado, obsoleto
E para o qual não havia mercado.
Pendurei-o, então, num quadro
Como reles lembrança do passado
Onde os homens mesmo entediados
Tinham o direito de sonhar.
                                                    Goiânia, 28/04/78

 (De Apocalypse, Editora Per Se, 2013, reedição). 

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