Wednesday, January 24, 2007

AS PAIXÕES FORTES BRILHAM

CHAMA

Preciso de um amor imoralmente belo.
Um amor que seja assim escandaloso como uma rosa
[ vermelha aberta
Que se aperte no peito que o aperta
Qual um nó de ladrão.
Preciso de um amor desmesuradamente material
Que se desdobre em pernas,
Que se revolva em braços,
Que grite, morda, gema
e em suor se desmanche.
Um amor que os lencóis manche
E que, no meu peito, deixe uma mancha eterna.
Preciso de um amor imaterialmente criminoso
Que seja perverso na maldade da tortura
De um beijo longo, doce, torpe, cruel
Que, ao mesmo tempo, que maltrate traga a cura.
Que seja um amor que fique
na carne, na cama e no papel.
Preciso de um amor moralmente feio
Que seja, ao mesmo tempo, ternura e chicotada
E, ao me elevar, me arraste pela lama
Onde, trêmulo, hei de glorioso
Chafurdar no perfume de seu seio!

(Do livro Apocalypse)

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